Alê: Você sabe conversar sobre política?
[Vinheta]
Alê: Olá, eu sou a Alessandra.
Bruna: E eu sou a Bruna.
Alê: A gente trabalha aqui na Câmara dos Deputados com educação para a democracia e estamos aqui hoje no estúdio em Brasília para falar um pouquinho sobre conversas democráticas, não é Bruna?
Bruna: É! Todo mundo acha que sabe conversar sobre política, mas pouquíssimas dessas conversas são democráticas de verdade. O que a gente tem ouvido demais são pessoas reclamando de conversas difíceis sobre política. Ah! com meu pai, com colegas de trabalho, com amigos... Sempre tem muita discussão, falta de respeito e as coisas acabam não terminando muito bem, né? E tem muita gente que já decide não conversar com quem pensa diferente, já dizendo logo “Olha, eu não vou mudar de ideia! Você não vai me fazer mudar de ideia!”
Alê: Hum-um! E esse papo é tão importante hoje, justamente porque a gente entende que dialogar é uma habilidade democrática. Ela é essencial para a nossa vida cotidiana e até uma questão de sobrevivência, né? O que vai ser da nossa sociedade, se a gente não souber mais dialogar, não souber mais resolver conflitos, construir acordos? E a elaboração das nossas leis, e das nossas políticas públicas, a convivência em um condomínio, na nossa comunidade dependem dessa habilidade de diálogo. E construir acordos tem que pressupor que todas as vozes estejam representadas, ou pelo menos, ouvidas.
Bruna: E se a gente deseja de fato vivenciar uma democracia, e eu acho que esse é o nosso desejo, que foi o nosso pacto como sociedade, é necessário desenvolver essa habilidade, né? E como qualquer outra habilidade exige um treino assim bem consistente, bem intenso!
Alê: E que é que a gente tá chamando de conversa democrática? O que que é uma conversa democrática? É aquela que tem uma escuta verdadeira do outro. Ela é... você já entra na conversa com a disposição de debater ideias, para você poder buscar pontos de contato entre visões de mundos diferentes. Então esses três pontos são essenciais para a gente conceituar o que que é essa conversa democrática: há escuta verdadeira do outro, você ter uma disposição para debater ideias, e você buscar pontos de contato entre essas visões diferentes de mundo.
Bruna: Pois é, ela é democrática, a conversa, quando a gente consegue articular as diferenças sem precisar suprimir uma voz, calar uma ideia, para que haja algum convencimento e algum consenso. É... mas a pergunta que fica no ar, Alê, é como articular essas diferenças, né? Como... como eu posso unir duas ou mais pessoas que pensam diferente? Será que não existem assim valores e experiências que podemos compartilhar, e que podem permitir que a gente se enxergue na conversa, que a gente se escute de fato?
Alê: Com certeza são justamente esses pontos de contato que permitem que a conversa aconteça. Se não, são simplesmente discursos de duas ou mais pessoas e não necessariamente uma conversa democrática. Pode até ser que não tenha a concordância de ideias, mas as pessoas podem concordar com a importância que aquelas ideias têm na vida de cada um, né? E assim poder respeitá-las. Então, isso é muito importante! E a gente só vai conseguir estar mais aberto se a gente exercitar esse diálogo.
Bruna: Um exemplo disso é o debate sobre o desarmamento.
Alê: Bom nesse seu exemplo, Bruna, como ter uma conversa democrática? As pessoas em vez de buscarem as suas divergências que é “sou a favor” ou “contra” armar a população, elas podem procurar o que que elas têm em comum nesse problema, que é a segurança em si, né? Os dois lados, nesse caso, estão preocupados com segurança, estão com medo, têm um problema em comum a ser resolvido.
Bruna: Isso.
Alê: Então, por que focar nessas diferenças de estratégia de como resolver o problema de segurança, em vez de focar naquilo que as une? Então, existe um problema que nós duas aqui temos em comum. Vamos pensar em dados sobre esse fato? Vamos pensar sobre informações, pensar em argumentos que possam nos unir e possam fazer a gente pensar numa solução? Mesmo que a gente discorde da estratégia, discorde da ideia, o que é justamente isso que a gente quer focar aqui.
Bruna: E conversando também temos a oportunidade de conhecer outras visões sobre o mesmo assunto e aí por isso a gente aumenta nosso conhecimento, né? Você já parou para pensar em qual sua motivação para entrar numa conversa sobre política?
Alê: Nossa, eu acho que nunca pensei sobre essa pergunta, acho que eu nunca comecei uma conversa pensando: “Por que que eu tô entrando nessa conversa? É para provar um ponto?”
Bruna: A gente sempre entra de forma espontânea, né? Estamos chateados com o governo...queremos reclamar...
Alê: Falar mal dos políticos... eu não penso, assim, se eu quero só provar que eu sei sobre determinado assunto. Então essa motivação é uma pergunta assim essencial, porque a gente pode simplesmente entrar com uma outra postura!
Bruna: Com certeza! E para conversar sobre política a gente acredita que a motivação seja de construir um aprendizado junto.
Alê: É aprender com a conversa!
Bruna: E isso faz com que a conversa seja democrática! A gente já entrar com essa disposição! Porque se a gente deseja aperfeiçoar essa habilidade, a gente tem que entender que a gente tem que aumentar os nossos repertórios de informações e de nossos conhecimentos, sobre diversas ideias. Por que isto é o que vai fazer a gente tomar as melhores decisões políticas no nosso cotidiano, né?
Alê: Com certeza!
Bruna: Decisões políticas como votar num candidato...
Alê: Como consumir, qual o meio de transporte usar...
Bruna: isso!
Alê: como acompanhar uma notícia...
Bruna: ou, por exemplo, uma política pública sobre educação que eu gostaria de defender, que eu vou entender melhor sobre ela.
Alê: E nada melhor do que conversar com diversas pessoas e grupos, para eu conquistar esse conhecimento sobre política. Enxergar a conversa como uma oportunidade de aprendizado.
Bruna: E é também importante, Alê, a gente pontuar aqui que para que um diálogo permita a construção de um conhecimento, né, as nossas argumentações têm que estar embasadas, né? A gente não pode conversar somente por meio de achismos ou falando só opiniões.
Alê: E as opiniões até fazem parte da conversa, elas são importantes, mas tem que ficar muito bem delimitado que opinião não é argumento, né? Para uma conversa democrática acontecer, ela tem que ser baseada em argumentos, né, em pesquisas, em referências, em reportagens, em dados, em informações. Isso é que é o argumento!
Bruna: Claro! Porque a opinião já é uma coisa que parte do indivíduo, né? É a sua crença sobre o assunto, né, baseada na sua experiência, na sua motivação pessoal. Então, assim, é importante você deixar claro que, quando numa conversa, que quando você tá falando alguma coisa e aquilo é a sua opinião, você mencionar para a pessoa: “essa é só a minha opinião!”
Alê: Com certeza!
Bruna: E hoje em dia, como a gente tem muito acesso fácil à internet, a gente pode buscar, né, dados, informações e tentar embasar melhor o argumento, se a gente só tem uma opinião sobre aquele assunto. A gente pode melhorar isso, né?
Alê: Com certeza! Dizer que não sabe, né, ir buscar, procurar, é sempre o mais saudável, né, numa conversa.
Bruna: E por isso que aquela disposição inicial em aprender, ela já facilita o diálogo, né, porque você já chega para a pessoa e diz: “Poxa, eu quero aprender contigo!”
Alê: Você já chega com outra atitude né? Muito mais aberta!
Bruna: É! Outra atitude! Tá todo mundo na defensiva, então a gente desconstrói isso.
Alê: Hum-um! Pois é, gente! Então, a gente viu que política se discute sim! E quanto mais a gente treina o diálogo, a escuta, a argumentação, o respeito à opinião alheia, né, mais conhecimentos e informações a gente consegue adquirir para sermos cada vez mais democráticos, por meio dessas conversas democráticas!
Bruna: Isso! Então fica aí para vocês um convite nosso para que experimentem fazer essas mudanças,né? Vocês topam o desafio?
Alê: É isso aí! tchau, tchau!
Bruna: Tchau!