"NA SOCIEDADE INCLUSIVA NINGUÉM É BONZINHO. Ao contrário. Somos apenas – e isto é o suficiente – cidadãos responsáveis pela qualidade de vida do nosso semelhante, por mais diferente que ele seja ou nos pareça ser. Inclusão é, primordialmente, uma questão de ética."
(Cláudia Werneck1, 2009)
No Brasil, educação e mercado de trabalho são duas áreas prioritárias para a efetivação da promoção da igualdade e da inclusão social2. Não é difícil imaginar os motivos para isso.
A educação possibilita o desenvolvimento do potencial dos indivíduos e a formação não somente para o trabalho, mas para a vida em sociedade. Segundo a Unesco3, a educação neste novo milênio deve buscar fundamentalmente quatro aprendizagens: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conhecer, e aprender a conviver.
Trabalho é meio para garantir a subsistência pessoal e familiar. Além disso, promove interação social, sentimento de pertencer, realização pessoal, desenvolvimento da autoestima, senso de dignidade e utilidade e o exercício da cidadania.
Você já pensou que um corpo com deficiência é uma expressão da diversidade humana? Que existem várias maneiras de existir no mundo e de habitar os corpos? Que a deficiência pode possibilitar experiências singulares e ricas de significado que o sujeito não teria não fosse essa característica de si?
Faz sentido para você constatar que o fato de as pessoas serem ou não capazes de realizar uma função como ver, ouvir, andar, ou falar de determinado modo, não significa que elas sejam melhores ou piores? Significa apenas que são diferentes?
O comportamento que hierarquiza as pessoas em função de um ideal de perfeição, de adequação, de "normalidade" e de capacidade funcional pode ser denominado CAPACITISMO e se assemelha a outras formas de preconceito e opressão social, como o sexismo, o racismo, a homofobia4.
Rejeitar o entendimento de deficiência como uma tragédia pessoal, como um "problema" do indivíduo, e compreendê-la como um resultado da interação entre o indivíduo que possui uma limitação física, sensorial e/ou mental e o ambiente físico e social ao seu redor é um legado do modelo social da deficiência5.
O modelo social vai nos indicar que exclusão social, laboral ou educacional, não é uma consequência "natural" da existência da deficiência, mas do fato de a sociedade estar despreparada para lidar com as diferenças, talvez pelo fato de ter sido organizada POR pessoas sem deficiência PARA pessoas sem deficiência6.
Ressignificar a deficiência e as crenças que possuímos sobre capacidades/incapacidades, normalidade/anormalidade é fundamental para o desenvolvimento de práticas inclusivas, qualquer que seja o contexto: social, familiar, escolar, laboral, etc.
O que pensamos sobre a deficiência impacta como iremos lidar com a deficiência.
Ao longo dos anos, a concepção acerca do que é a deficiência, os termos usados para denominá-la(s) e o tratamento destinado às pessoas com deficiência modificaram-se e avançaram, acompanhando o desenvolvimento das sociedades diante das descobertas científicas e da maturidade dos movimentos de defesa de direitos humanos.
Houve época em que pessoas com alguma deficiência não eram consideradas humanas ou eram classificadas como inválidas (sem valor), aleijadas, incapazes ou aberrações. Difícil de acreditar, não é?
Na antiguidade, em vista da concepção de homem ideal, perfeito, a deficiência é vista como um obstáculo intransponível e o resultado é a exclusão social praticamente completa dessas pessoas.
Na idade média, a deficiência é entendida como resultado do desejo divino e as pessoas com deficiência são vistas como objeto de compaixão e piedade. O resultado são as práticas de segregação, com a internação dessas pessoas em instituições de caridade.
A partir das ideias iluministas, da revolução industrial, da evolução do capitalismo, da ciência e da medicina, do desenvolvimento da estatística e do conceito de "normalidade", e das grandes guerras, a deficiência passa a ser vista como um desvio, ou um problema a ser corrigido. O "deficiente" precisa ser tratado e adequado para estar em sociedade. As práticas de reabilitação passam a ser um caminho para a "integração social".
Para fugir desse estereótipo de deficiente,
adotou-se o termo "pessoa portadora de deficiência" (PPD), enfatizando-se em primeiro plano, pela primeira vez, a "pessoa" que tem a deficiência. Todavia, o termo "portador" não se mostrou adequado, pois algo que se porta é algo que se pode deixar em algum lugar, ou seja, algo não inerente à pessoa, o que não é o caso da deficiência!
Com os movimentos sociais de luta por direitos, a compreensão da deficiência como intrínseca ao indivíduo e como expressão da diversidade humana, e a difusão das ideias do modelo social da deficiência, desloca-se a questão da deficiência do nível individual para o nível social, e o resultado é a necessidade de adequação da sociedade para promover a INCLUSÃO de todas as pessoas nos diversos espaços sociais.
Atualmente, o termo correto a ser utilizado é "pessoa com deficiência", cuja sigla é PcD, pois prioriza o sujeito, a pessoa, e considera, sem eufemismos, o fato de se possuir uma deficiência.
Pessoas com deficiência querem e devem ser vistas, primeiramente, como sujeitos de direitos. Trata-se de um processo de afirmação e empoderamento. As pessoas com deficiência engajadas na luta pelo reconhecimento não querem esconder ou camuflar a sua deficiência e, por isso, não se identificam com expressões do tipo: pessoas especiais, portadoras de deficiência, portadores de necessidades especiais, inválidos, incapazes ou excepcionais.
Ou seja, é preciso entender que as PcD também possuem direitos e deveres para com a sociedade, são capazes de exercer plenamente sua função social, necessitando – como todas as pessoas - de condições adequadas para o exercício de seus deveres sociais e também para o usufruto de seus direitos.
Com a identificação da pessoa com deficiência como sujeito de direitos, procura-se a concretização de uma vida humana digna e plena. Para isso, o direito à dignidade humana pressupõe reconhecer e valorizar a diversidade humana e as necessidades decorrentes da deficiência.
Esse termo entrou no ordenamento jurídico nacional com o Decreto nº 6.949, de 2009 – que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, e seu Protocolo Facultativo, como texto constitucional.
"Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas." (Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – Art. 1°)
Essa nova percepção tira o foco das limitações funcionais das pessoas com deficiência e atribui mais importância às limitações impostas pela sociedade, que impedem a plena participação social das pessoas com deficiência.
A frase da arquiteta e cadeirante Thaís Frota resume bem isso: "Se o lugar não está pronto para receber TODAS as pessoas, esse lugar é deficiente." E nessa frase estamos falando apenas de uma barreira física, por exemplo. E as barreiras sociais? E as barreiras de comunicação?
Barreira é qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros, classificadas em:
Olá! O meu nome é João e queria partilhar com vocês que estive impossibilitado de andar por um período. Antes disso, nunca havia pensado nas dificuldades que as pessoas que precisam de cadeira de rodas passam.
Nem todas as portas são de tamanho adequado. As calçadas, ou a falta delas, é algo que torna inviável sua locomoção para qualquer lugar. E os meios de transporte? Totalmente inadequados.
Hoje em dia, minha visão de mundo mudou. Não preciso mais da cadeira de rodas, mas a todos os lugares que vou, fico pensando em como acessaria durante o tempo em que precisei.
Por isso, hoje, trabalhando com informática, em tudo o que faço me questiono o que posso melhorar para que mais e mais pessoas acessem e usufruam os benefícios do que produzo.
Acessibilidade é um
atributo
essencial do ambiente,
que garante a melhoria da qualidade de vida das pessoas e deve ser promovida para atender à coletividade, gerando resultados sociais positivos e contribuindo para o desenvolvimento inclusivo e sustentável.
Como princípio, a acessibilidade determina que as concepções de todos os espaços e formatos de produtos e serviços permitam que as pessoas, independentemente de limitações físicas, intelectuais ou sensoriais, possam ser suas usuárias legítimas.
Quando a inclusão de PcD é incorporada como um valor para as organizações, as medidas de acessibilidade estão presentes desde a concepção até a avaliação de ambientes, produtos, processos de trabalho e serviços.
A Acessibilidade passa a ser um fator implícito no planejamento organizacional utilizando o conceito de "Desenho Universal".
Concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem utilizados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo tecnologia assistiva (Lei Brasileira de Inclusão).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elabora parâmetros técnicos de acessibilidade segundo preceitos do desenho universal, destacando-se:
Vai ficando mais fácil perceber que, para realizar a efetiva INCLUSÃO das PcD nos contextos de trabalho nas organizações, é preciso garantir acessibilidade urbanística, arquitetônica, informacional, comunicacional, tecnológica e, sobretudo atitudinal.
É preciso que as pessoas estejam abertas a conviver com alguém que possui uma deficiência. Reconhecer as dúvidas, possíveis embaraços, ideias preconcebidas para, então, dirimi-los e buscar uma convivência que garanta a expressão e o desenvolvimento das competências, a sinergia do grupo, a produtividade aliada ao sentimento de bem-estar no trabalho e as potencialidades criadas pela diversidade nas equipes de trabalho.
Lembre-se: um espaço inclusivo é um espaço bom para todos!
As dicas apresentadas nos vídeos podem ajudar nesse propósito. E vamos ver alguns outros aspectos importantes que devem ser observados por colegas e gestores no intuito de promover a real inclusão no contexto de trabalho:
Nos últimos anos, muito se tem discutido e publicado no Brasil acerca da inclusão nas escolas. Mais recentemente a preocupação com o tema e a demanda social chegam às universidades e às escolas de governo, especialmente voltadas para o público adulto.
O Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados e a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), entre outras, têm desenvolvido esforços para promover a inclusão em seus ambientes administrativos e educacionais.
A ENAP8 organizou e sistematizou suas ações em quatro eixos, que correspondem às principais barreiras que prejudicam a participação plena das PcD e das pessoas com mobilidade reduzida, e que podem ser orientadoras e inspiradoras para outras Escolas:
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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4 | Dia Mundial do Braille |
24 | Dia Mundial do Hanseniaco |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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23 | Dia do Surdo-mudo |
25 | Dia Internacional do Implante Coclear |
26 | Criação da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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11 | Criação da Fundação para o Livro do Cego no Brasil |
21 | Dia Nacional da Síndrome de Down |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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2 | Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo |
3 a 9 | Semana da Responsabilidade Social |
7 | Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola |
8 | Dia Nacional do Sistema Braille |
16 | Dia Mundial da Voz |
23 | Dia Nacional de Educação de Surdos |
24 | Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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11 | Reconhecimento do Sorobã como Instrumento de Ensino da Matemática para Pessoas Cegas no Brasil |
26 | Dia Nacional do Combate à Cegueira pelo Glaucoma |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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9 | Dia da Imunização |
18 | Dia Nacional do Orgulho Autista |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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6 | Promulgação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (2015) |
10 | Dia da Saúde Ocular |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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21 a 27 | Semana da Pessoa com Deficiência nos Estados |
21 a 28 | Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla |
25 | Promulgação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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17 | Fundação do Instituto Benjamin Constant (Primeira Escola para Cegos da América Latina) |
19 | Dia Nacional do Teatro Acessível |
21 | Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência |
21 | Dia Nacional da Responsabilidade Social |
22 | Dia Nacional do Atleta Paralímpico |
26 | Dia Nacional do Surdo |
27 | Dia Mundial do Turismo Acessível |
27 | Dia Nacional dos Doadores de Órgãos |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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5 | Promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 |
11 | Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Física |
15 | Dia Mundial da Bengala Branca, símbolo que reconhece o Cego |
25 | Dia Nacional de Combate ao Preconceito contra as Pessoas com Nanismo. |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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10 | Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez |
Último domingo | Dia Mundial do Surdo-cego |
DIA | COMEMORAÇÃO / HOMENAGEM * |
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3 | Dia Internacional da Pessoa com Deficiência |
9 | Dia da Criança Especial |
10 | Declaração Universal dos Direitos Humanos |
13 | Dia Nacional do Cego |